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Publicado no jornal 100% Vida por Tais Azevedo.


Enfrentando a solidão causada pela separação

 

“Se casaram e viveram felizes para sempre…”

   Quantas vezes ouvimos este final feliz de contos de fadas? Que mensagens carregamos desde pequenos em relação ao casamento?

   Quando os casais já não conseguem alcançar a felicidade almejada, ou, decidem se separar, vivem uma sensação de desamparo, fracasso e dificuldades em aceitar o rompimento.

   A pessoa em processo de separação passa por momentos de dúvida, medo e confusão. É uma situação nova a ser encarada, geralmente depois de muita frustração e dor. Enganam-se aqueles que pedem a separação para estancar imediatamente o sofrimento, porque é durante esse processo que abrimos as feridas não cicatrizadas, e as deixamos expostas, para serem devidamente cuidadas.

   Para nos recuperarmos dos sofrimentos trazidos por uma separação precisamos tomar consciência dos nossos sentimentos e dos fatos que estamos vivendo, encarando-os, sem negá-los, escondê–los ou diminuí-los. Precisamos examinar e refletir sobre a relação que se foi, o que é muito difícil para quem não está habituado a pensar em seus próprios sentimentos.

   Se conseguirmos sair da zona de conforto, teremos a oportunidades de enxergar nossa contribuição para o término, nosso crescimento individual ou atrofias, as falhas, os acertos, filtrar o bom do ruim e aprender a sermos melhor do que fomos.

   Muitas pessoas engatilham um relacionamento no outro, às vezes pelo medo de enfrentar a solidão, o que pode gerar diversos conflitos futuramente.

   É importante vivenciar as fases da separação para tornar possível a reconstrução e o fortalecimento. É uma fase de adaptação com várias etapas, as quais raramente passamos ilesos.
A saudade é um outro sentimento presente na separação, mas pode não ser diretamente relacionada ao parceiro, e sim a momentos vividos juntos, lembranças. Durante este período também vivemos sentimentos de tristeza por tudo o que foi bom e não existe mais e de raiva pelo que aconteceu e da maneira como aconteceu.

   A separação é difícil para as duas partes, mesmo para aqueles que têm muita certeza do que querem. Vem o medo de olhar para dentro de nós. Algumas pessoas só conseguem se separar quando já estão envolvidas com outro. E mesmo quando há os filhos, existe a sensação de solidão, e isso assusta.

   Precisamos de um tempo para nós mesmos, reciclar ideais, sonhos, perspectivas, pois só estaremos inteiros para uma nova relação quando tivermos a capacidade de enfrentar a vida sozinhos. É preciso enfrentar o medo de ficar só evitando o risco de carregar todos os comportamentos negativos da relação passada.

   Existem muitas pessoas que sentem angústia com a solidão, tornam-se inseguras e auto-depreciativas, culpadas pelo término da relação, impotentes, mal amadas, excluídas, deprimidas. Outros recorrem ao uso de álcool, fumo, drogas, deixam de se alimentar corretamente ou comem em excesso como se pudessem fugir, mesmo inconscientemente, de sua realidade.

   O importante é saber que solidão física é uma coisa e solidão emocional é outra. O medo deste sentimento pode surgir quando não se descobre o prazer em ficar só consigo mesmo. Ora, quantas vezes não se sentiu sozinho mesmo quando estava com o ex-companheiro?

   Após a separação geralmente nos deparamos com muito tempo livre, e este é o momento para nos cuidarmos, nos redescobrirmos agora sob um novo enfoque, descobrirmos novas sensações, experimentando o novo, revivendo coisas boas que por qualquer motivo ficaram esquecidas. Isso tudo ajuda a conseguir o equilíbrio emocional.

   Se os momentos de saudade e tristeza pelas lembranças vividas são inevitáveis, é preciso vivê-los conscientemente, aproveitando o aprendizado, sem apagar o passado, que não precisa nos destruir. Fundamental é buscar ajuda psicológica se você achar que não tem condições de enfrentar essa tormenta sozinho, o que é muito comum.

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