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Publicado no jornal 100% Vida por Tais Azevedo

Final de relacionamento: Luto e Possibilidade de reestruturação.

   
    “Eu bato o portão sem fazer alarde, eu levo a carteira de identidade, uma saideira, muita saudade e a leve impressão de que já vou tarde”. (Chico Buarque e Francis Hime).

    Sem dúvida todo final de relacionamento é um momento difícil, mesmo quando as duas pessoas conseguem definir harmoniosamente o fim, o que é raro acontecer, pois é difícil nos enxergarmos sozinhos.
   
    Não ter uma mão para trançar os dedos, um abraço afetuoso, alguém para conversar, uma vida para dividir, sonhos compartilhados a alcançar, é doloroso. O período de luto varia de acordo com a forma como se desfez a relação, depende de nossas experiências de vida e da nossa idade.

    Mas este período de tristeza e angústia deve ser vivido para conseguirmos passar inteiros e prontos para uma nova fase. Mesmo quando o relacionamento há tempos não anda bem, normalmente é um que se enche de coragem e levanta a necessidade de separação, independente do motivo, insatisfação, incompatibilidade de interesses, brigas constantes ou simplesmente porque já está insustentável conviver. O outro, por sua vez, se pega surpreendido e atordoado por tal decisão e não consegue entender o que aconteceu de tão grave para tal atitude drástica. Ele fica perdido sem saber o que fazer.

   Se quem pede a separação sofre por carregar a culpa deste fim, o outro sofre com a sensação de abandono, por ainda gostar muito do outro, por sentir-se inferiorizado, fragilizado e com baixa auto-estima. Quando há a separação decidida por um dos parceiros, inevitavelmente nos perguntamos: Mas por quê? Será que ele vai voltar? O que fiz de errado? Ele não sabe o quanto eu o amo? Como assim não me ama mais? É muito difícil lidar com o fim da relação, principalmente porque sofremos por alguém que amamos.

   No mês de outubro estive em um workshop com o Psicoterapeuta Biodinâmico francês François Lewin que sabiamente pautou o significado puro do amor. Ele afirma que temos a mania de associar o amor ao sofrimento, à dor. “Se não é difícil e doloroso não pode ser amor”. Mas é justamente o contrário disso. Quando somos crianças temos a necessidade de ter o amor dos nossos pais, precisamos deles por perto para garantir nossa sobrevivência. Depois o amor amadurece, não precisamos dele acorrentado em nossos pés, do amor dramático e podemos desfrutar de um amor livre, prazeroso, parceiro, confiante. Quando não o recebemos, a relação tende a decair.

   As pessoas não deixam de gostar da outra por querer e isso não acontece do dia para a noite. É difícil encarar nossa responsabilidade pelo desamor do parceiro. Ou preferimos carregar toda a culpa pelo término, o que também não é bom. São necessárias duas pessoas para fazer um relacionamento e são necessárias duas pessoas para terminá-lo. Por isso é tão complicado romper.

  Mas se o relacionamento acabou precisamos encarar a realidade. Podemos nos sentir destruídos, vazios, com uma solidão infinita e nos perguntarmos: O que será de mim agora? Isso se dá porque muitas vezes investimos fantasiosamente em nosso parceiro, acreditamos que ele tivesse muito mais qualidades do que ele tem na realidade, nos afastamos de nossa rede social, colocamos no outro todos nossos sonhos transformando-o no centro do nosso mundo, nos doamos, nos submetemos aos desejos e anseios do companheiro e depois percebemos que é preciso cuidar de nós mesmos, recuperar nossa estrutura e nos reconhecermos depois do tempo que passamos adormecidos.

  É preciso viver o luto, filtrar os ganhos e as perdas, aprender a desgostar do outro, o que pode ser rápido ou demorar meses e até mesmo anos. Como juntar nossos cacos diante do caos? A terapia pode ser um espaço valioso para  superar o luto, nos momentos de raiva, dor, desesperança, enclausuramento, entre outros sentimentos, mas precisamos ainda nos reencontrar, nos reestruturar e nos libertar do que nos faz mal e nos colocarmos inteiros no mundo para viver intensamente novas experiências. Se permita viver o fim e o recomeço de maneira plena com construções positivas.




 

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