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Publicado no jornal 100% Vida por Tais Azevedo.


TAL FALAR O QUE SENTE?

   É muito comum chegarem ao meu consultório pessoas buscando o autoconhecimento. Julgam-se vazias, perdidas diante das fases da vida. A maioria não consegue expressar o que sente, ou dar nome aos sentimentos.

   Realmente não é fácil trabalhar o que sentimos, afinal falar sobre isso é uma forma muito delicada e íntima de falarmos de nós mesmos.

   Aprendemos desde muito cedo a nos mascarar. Quem não ouviu na infância os familiares ensinando a ser como eles, duros diante de algum sofrimento. Aprendemos ainda pequenos que não podemos demonstrar sentimentos como a raiva, inveja, frustração, vergonha, insegurança e medo. Chorar, nem pensar.

   Fomos ensinados que certas coisas não se deve fazer na frente dos outros. A idéia era educar, mas sempre mascarando e reprimindo sensibilidade. Às vezes era difícil para os pais ouvir os reais sentimentos de seus filhos, seja pela falha da comunicação familiar ou pelos tabus.

   Alguns pais tomavam para si as dores dos filhos, o que não é saudável. Como crianças também nos calamos para proteger nossos pais das preocupações de nossas incertezas, solidão, tristeza e dor . O fato é que fazemos isto tantas e tantas vezes que escondemos de nós mesmos nossos sentimentos, aprendemos desde cedo a ouvir o apelo de um mundo que pede por pessoas ‘fortes” mas não conseguimos nos manter assim por muito tempo, porque um dia a realidade virá à tona. 

   Se vivemos ainda crianças traumas ou experiências ruins de solidão, abandono, tristeza, abusos, pânico e não recebemos apoio de alguém para falar sobre, questionar,refletir, entender, sentir- se seguro e protegido, não conseguiremos manifestar nossos reais sentimentos. A conseqüência é que poderemos recriar as mesmas situações futuramente em nossos relacionamentos para ter a oportunidade de manifestar os sentimentos reprimidos de outrora.

   Nosso inconsciente trabalha com a fantasia de resolver o trauma original, por isso nos colocamos em situações que nos faça sentir o que sentimos anteriormente.

   Por exemplo, uma criança que sofreu com o sentimento de rejeição pode tentar reviver as mesmas situações em seu futuro. A intenção é clara, mas complexa. Clara porque a idéia é de se resgatar um sentimento que a aterroriza mesmo após vários anos, mas complexa porque nós tendemos a manter a mesma postura, que uma vez aprendida, é repetida sucessivamente.

   É comum escutar as falas,” quero um emprego onde eu seja respeitada, mas todas as empresas que entro são iguais, ninguém me respeita”, ou “gostaria de um companheiro presente, carinhoso, mas meus namorados são sempre iguais, sempre me deixam só”.

   Para a desejada superação precisamos de ajuda, precisamos ter alguém para dividir estes sentimentos, ter espaço para viver seu luto e fazer suas elaborações. Falar sobre o que sentimos ajuda a aceitar e superar o que de ruim nos aconteceu. O trabalho que faço com o paciente destaca os pontos positivos de voltar a falar, dando sustentação aos momentos críticos e dolorosos, pontuando as defesas que criamos e que nos mantém no circulo vicioso.

   Todo o processo de psicoterapia não é fácil porque as pessoas temem sentir mais dor entrando em contato com seus traumas, mas não é possível colocar uma pedra sobre o trauma, porque ele não deixa de existir e machucar.

   Ressalto que com o passar do processo psicoterapêutico, são criadas as oportunidades de retirar aquela mascara colocada ainda na infância para construir oportunidades de olhar de frente, assumindo medos, inseguranças, traumas, criando possibilidades reais de defesa contra as violências externas e permitindo vivenciar as reais oportunidades que a vida oferece diariamente.

   Para isso é preciso que você dê o primeiro passo!

 

 

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